domingo, 15 de janeiro de 2012

Mancha Verde fechará primeiro dia de desfiles com candomblé

Escola contará a história do príncipe Odú Obará. Terceiro carro será um dos destaques

Do G1 SP

Viviane Araújo, rainha da bateria da Mancha Verde, no desfile das campeãs de 2011 (Foto: Arquivo/G1)

Ser a última escola a se apresentar no Carnaval não é fácil – se a programação não atrasar, a agremiação entra no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo, quando ainda é escuro, mas sai com o dia já amanhecendo. Equilibrar a luz e o dia é o desafio da Mancha Verde para 2012. A escola é a última a desfilar no primeiro dia do Grupo Especial, e leva para a pista um enredo que apresenta as lições de humildade do candomblé.

Com o enredo “Pelas mãos do mensageiro do axé a lição de Odú Obará: A humildade", a agremiação pretende contar a história de um dos príncipes do candomblé, uma mistura de fantasia e realidade. “É a história de um príncipe que simboliza um dos 16 búzios do jogo de búzios”, conta Paolo Bianchi, diretor de carnaval da escola. “O candomblé é uma mistura de lendas e realidade, isso eu aprendi agora também. Muita coisa do candomblé é ligada a fatos que aconteceram de verdade na África um tempo atrás, misturando historia com fantasia.”

Bianchi conta que Odú Obará era um de 16 irmãos príncipes que tinham como missão ensinar aos homens os valores necessários para a vida. “Ele era o mais pobre, o mais simples. Os irmãos tinham vergonha dele”, afirma o diretor de carnaval. Segundo a lenda, uma vez por ano os irmãos visitavam um mestre, que lhes dava ensinamentos. Em uma das visitas, os príncipes não chamaram Odú Obará, por vergonha de sua pobreza.

“Esse grande mestre percebeu que ele [Odú Obará] não estava lá, e ao invés de dar os presentes de sempre, joias, ouro, coisas de valor, ele deu uma abóbora para cada um dos príncipes”, diz Bianchi. “Voltando para casa, eles resolveram passar na casa do irmão rejeitado para descansar e comer. Odú fez a comida, e quando os irmãos foram embora percebeu que ficou sem alimento – sobraram apenas as abóboras, deixadas pelos príncipes. Quando ele partiu as abóboras, elas estavam cheias de joias, e ele acabou se tornando o irmão mais rico de todos.”

Para contar toda essa história, que é o centro do enredo, um dos destaques da escola será o terceiro carro – que levará 16 abóboras. “O carro vai mostrar a casa de Odú, com as abóboras. Dentro de cada uma delas haverá um destaque com fantasias representando a riqueza”, conta o diretor de carnaval, que garante que o carro será muito bonito. Outro destaque será o abre-alas. “Ele tem uma proposta diferente de alegoria”, diz, sem dar muitos detalhes para não estragar a surpresa.

Para driblar os problemas da luz – a escola terá parte de seu desfile no escuro e outra parte já com o dia claro –, a Mancha Verde está apostando na cor e fará seu ensaio técnico no mesmo horário do desfile, às 5h. O samba é de autoria de Fredy Vianna, Chanel e Armênio Poesia. Confira a letra:

O dia vem anunciar,
A humildade é a voz da razão,
Sou Mancha Verde guerreira,
Erguendo a Bandeira,
Aceitando a missão.

A fé eu fui buscar
Com meu clamor ao mensageiro
Sou Babalorixá,
A dor de um mundo inteiro
Tenho a sede do saber
E ainda muito o que aprender
Se Olorun é o Pai na criação
Eu sou mais um dos filhos desse chão
Orunmilá, Ô Ô Ô
Criou senhores do destino
A cada irmão deu seu ensino
E o dom em conhecer as direções

Ôba!! Ôba!!
O olhar de cobiça vai perceber Babalaô
Faz a justiça vencer meu Pai Xangô
A simplicidade vai determinar
A riqueza na lição de Obará

Vem preservar,
Respeitar a natureza do criador
Os orixás são provas do seu amor
Que os ventos de Iansã
Leve Oxum, Obá, Nanã,
No encontro com o mar, a vida é linda, salve Oxalá,
Sementes vão trazer às folhas o poder
É o fim de uma era que se regenera em Obaluae
Oh Senhor, perdoai a humanidade,
Iluminai a consciência,
Pra guiar essa mudança
Vou guardar no coração, levar em minhas mãos,
A mensagem de esperança.

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